sexta-feira, 24 de abril de 2015

Gateway real versus gateway virtual - Publicado no Jonal do Pico a 24 de Abril de 2015


Gateway real versus gateway virtual

Por uma questão de enquadramento histórico, importa começar com uma abordagem das Obrigações de Serviço Público propostas para vigorarem a partir de 1 de janeiro de 2005.

Na situação real, então vivida, tínhamos um movimento de passageiros de: Verão-523.600; Inverno-203.640 e Adicional-5.500. A proposta do Governo Regional para 2005 propunha: Verão-659.300; Inverno-283.800 e Adicional- 5.500.

Facilmente se depreende que a capacidade global mínima de lugares então imposta era absurda porque completamente desajustada da realidade, como posteriormente se verificou - consta de documento, datado de 23 de setembro de 2003, remetido ao então Presidente do Governo Regional. O aumento médio de 25,9% - passar de 730.400 para 919.300 passageiros – apenas evidenciava que a proposta não teve em conta os volumes de tráfego e a evolução que já então se verificava, tanto mais que foram introduzidas duas novas rotas.

Como parecia óbvio, por falta de concorrência, inadequada definição de serviços mínimos e incorreta integração da cadeia logística, o modelo subvertia as regras da concorrência e penalizava as populações das ilhas com gateways servidas por apenas uma ligação semanal.

Analisando as Obrigações de Serviço Público atualmente em vigor, conclui-se que da conjugação do número mínimo de voos com o número de lugares disponibilizados, em alguns casos, o total de oferta é superior, em dois dígitos percentuais, ao número total de passageiros movimentados nessas gateways em 2014.

Contudo, não é essa a situação do Pico. Neste caso, o número de voos corresponde ao número de lugares disponibilizados. Todavia, esqueceram que estes voos se destinam à gateway da Terceira, não sendo portanto o total de lugares disponibilizado para o Pico, aliás, o Pico não surge como destino nos sites das companhias para reserva de passagens. Com estes dois voos indiretos ficam penalizadas duas ilhas e o Pico não deixa de ser uma gateway virtual, apesar de o turismo ter crescido em janeiro de 2015, mais de 37%.

Numa correta integração da cadeia logística, tendo em vista um real incremento da mobilidade, estes voos deviam ser diretos e complementados com horários nas ligações inter-ilhas que permitissem aos Picarotos, no conceito de aeroporto único, plena liberdade de escolha da gateway de saída/entrada, o que não acontece.

Vejamos - excetuando os voos semidiretos de Segundas e Sábados, para saídas do Pico pelas gateways da Terceira ou de S. Miguel, os tempos de espera nestas gateways podem chegar a 10 horas, como o demonstra documento remetido, em devido tempo, ao Senhor Secretário Regional do Turismo e Transportes. Assim, não há opção de escolha e é curioso perceber quem beneficia com isso.

É bom saber que em julho e agosto as duas ligações semanais serão diretas e que o Governo Regional está disponível para corrigir as desconformidades detetadas contudo, no imediato, a situação só será corrigida se os horários da manhã de saída do Pico permitirem ligação rápida com as saídas, também da manhã, das gateways atrás referidas. Não se trata de uma exigência, mas antes, como o demonstram os números do turismo, de não injustiçar uma ilha que o não merece e de não inviabilizar o seu desenvolvimento económico.

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