sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Novo Canal da Nicarágua e as implicações futuras no tráfego mundial - Publicado no Jornal do Pico a 31 de janeiro de 2014

Novo Canal da Nicarágua e as implicações futuras no tráfego mundial
De acordo com notícias recentes o Governo da Nicarágua e a empresa chinesa HK Nicarágua Canal Developement Investment Co. Limited, assinaram um contrato para a concessão e construção do novo Canal Interoceânico da América Central, cujas obras terão início em dezembro do corrente ano.
O projeto do novo canal terá sido acordado entre o Governo da Nicarágua e a empresa HKND. Será concessionado por 50 anos, prorrogáveis por mais 50 e custará cerca de 40 mil milhões de dólares.
Este novo Canal unirá os Oceanos Pacífico e Atlântico e, de acordo com o Governo da Nicarágua, terá um oleoduto, uma estrada, dois portos de águas profundas, dois aeroportos e duas zonas francas.
Claro que não é alheio a este projeto o volume de negócios existentes entre o Brasil e a China. A indústria brasileira, hoje, vende basicamente commodities de minérios de ferro e agrícolas em geral. E o Brasil compra tudo da China. O mercado chinês hoje tem 178 mil milionários, e a classe média emergente tem 400 milhões de pessoas as quais começam a ter acesso a um consumo desenfreado que não existia antes.
Não é por acaso que a empresa brasileira Vale-Agnelli encomendou ao estaleiro coreano Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering 7 navios graneleiros – Valemax – com comprimento fora a fora de 365 metros, boca de 65 metros, calado de 23 metros e capacidade para 400 mil toneladas de carga e já estão encomendados mais 12 à empresa chinesa Pongsheng Shipbuilding.
Prevê-se que com os novos navios a redução de frete por tonelada transportada seja da ordem dos 40%. Imagine-se qual poderá ser a redução se esses navios utilizarem o futuro Canal da Nicarágua e não tiverem de contornar todo o Atlântico Sul, reduzindo o tempo de viagem em mais de 20 dias.
Imagine-se quais as implicações para o tráfego mundial de carga geral contentorizada que terá a abertura de um novo canal por onde possam transitar navios de qualquer dimensão.
Se as novas comportas do Canal do Panamá já irão possibilitar o trânsito de navios porta-contentores com capacidade para 13 mil contentores imagine-se o que será juntar a isso um novo canal onde possam transitar os porta-contentores de última geração - acima dos 18 mil contentores.
A economia de escala gerada por este novo canal e pelo remodelado canal do Panamá quando conjugada com a economia de escala dos navios porta-contentores de última geração trarão ajustamentos/alterações, por enquanto, imprevisíveis ao tráfego internacional.
Muito provavelmente fretes mais baratos serão um incentivo ao aumento da circulação de cargas com a consequência de serem utilizados menos navios.
Face à dimensão de tudo isto subscrevo as afirmações do Eng. Ribeiro Pinto quando afirma no Diário Insular; “ A questão aqui deve centrar-se na procura de um parceiro” porque “ Fazer um HUB na Praia da vitória ou noutro sítio qualquer tem custos enormíssimos, que nós não temos capacidade de suportar”. Será possível encontrar esse parceiro para, sob a forma de concessão, realizar o investimento? Gostava que fosse porém, conhecendo a excentricidade dos Açores relativamente ao tráfego internacional e os interesses em jogo, sou levado a concluir que se trataria de um investimento sem retorno e, por isso, só posso ter dúvidas.


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